cartas do caminho // trilha 6: mais que um mero espectador
notas e reflexões sobre Praticando o Caminho
Oi, pessoal! Como estão? Espero que bem.
Esta é mais uma carta do caminho, para refletirmos e crescermos enquanto, juntos, andamos com Jesus. Esse é o propósito de uma jornada de formação espiritual — e é o que temos explorado por aqui.
Caso não tenha lido a última carta (esta aqui), saiba que o livro que tem conduzido as nossas conversas, o Praticando o Caminho, agora está disponível em português! 🙌🏻
A Purpose Paper, em parceria com a Thomas Nelson, acaba de lançar uma edição lindíssima deste que é um dos recursos mais interessantes sobre discipulado da atualidade. Certamente abençoará você e a igreja brasileira.
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Então é isso. Sigamos com a nossa conversa sobre estar com Jesus, ser como Ele e fazer o que Ele fez.
Agir como Jesus envolve pregar e demonstrar o Evangelho. Hoje, vamos descobrir o que isso significa e como acontece na vida comum. 👀
💭 Para pensar: pregar e demonstrar o evangelho
Conforme já aprendemos, continuar a missão só é possível quando somos capacitados pelo Espírito — quando a própria vida de Cristo habita em nós para vivermos como Ele. Dessa forma, passamos a cultivar atitudes que exibem o Reino florescendo em nós, por exemplo, a hospitalidade.
Além dela, contudo, há outras maneiras de tornar pública a sua comunhão íntima com Jesus.
Ao longo da história da igreja, muito se discutiu sobre as prioridades da missão cristã. Por um lado, a ênfase na proclamação verbal das boas-novas, por outro, o apelo por obras de justiça e por um testemunho encarnacional. O problema se dá quando reduzimos a missão a uma dessas expressões — sendo que ela possui diversas linguagens.
Claro, precisaríamos de uma série inteira de estudos para explorar essa discussão.
O mais importante aqui é olhar para Jesus como o paradigma para o nosso testemunho. E Ele, em seu ministério, tanto fez quanto falou coisas que revelavam a chegada do Reino.
Pregar o evangelho, anunciá-lo, pode parecer antiquado para cristãos já acostumados a uma cultura que, mais do que suspeitar da possibilidade da crença, “estranha” aqueles que professam sua fé publicamente.
John Mark cita uma conhecida pesquisa do Grupo Barna, Reviving Evangelism, que relata essa tendência.
Apesar disso, muitos millennials não têm certeza sobre a prática real do evangelismo. Quase metade dos millennials (47%) concorda, ao menos em parte, que é errado compartilhar suas crenças pessoais com alguém de uma fé diferente na esperança de que essa pessoa um dia compartilhe da mesma fé. — Barna Group, Almost Half of Practicing Christian Millennials Say Evangelism Is Wrong
A imagem que me vem à mente é a dos pregadores itinerantes nas praças no centro de Jundiaí. Ou quando eu, sob efeito pós-retiro de carnaval, segurava um pequeno cartaz escrito “Jesus te ama” pelas ruas.
Quero dizer que pressões culturais e equívocos eclesiásticos tornaram o evangelismo anti-natural para uma porção de cristãos. Isso, todavia, é sintoma de uma crise de identidade entre os crentes.
No discipulado de Jesus, aprendizes se comprometem a dizer o que seu mestre disse.
Culturalmente falando, pregar a boa notícia das Escrituras é considerado uma ofensa às sensibilidades modernas. Mas e quanto as tantas boas-novas afirmadas e divulgadas nos espaços plurais da sociedade? 📣
O apóstolo Paulo anunciava convictamente uma mensagem. Tal qual João Calvino, Jonathan Edwards e John Stott. Bem como Freud, Paulo Freire, Donald Trump e Lady Gaga. A diferença é qual boa-nova. Todos esses fazem propostas (e promessas) sobre onde podemos encontrar esperança e salvação.
Eu me lembro da vez quando fui a um pequeno evento do Notion com colegas de trabalho. Saindo de lá, chegamos à conclusão que se trocássemos “Notion” por “Jesus”, seria praticamente um culto evangélico, dada a carga de redentiva que atribuíam a uma ferramente que, embora seja útil, excelente e apaixonante, não é a resposta para a escassez de sentido e o abismo do pecado.
Se todos pregam um evangelho. Comer diz, aprendizes do Reino são os que pregam o evangelho de Jesus. Isto é:
O evangelho é que Jesus é o poder máximo no universo e que a vida com ele está agora disponível para todos. Por meio de seu nascimento, vida, ensinamentos, milagres, morte, ressurreição, ascensão e dom do Espirito, Jesus salvou, está salvando e salvará toda a criação; e, sendo aprendizes de Jesus, podemos entrar nesse reino e participar da vida interior do próprio Deus. Podemos receber, dar e compartilhar o "Amor dinâmico.” Podemos fazer parte de uma comunidade que Jesus está, muito lentamente, formando em uma nova sociedade, que resplandece de paz e justiça, a qual, um dia, governará toda a criação juntamente com o Criador, em uma eternidade de desenvolvimento criativo, crescente e alegre; e qualquer pessoa pode fazer parte dessa história. — John Mark Comer, p. 146-147
Os métodos para compartilhar esta história? São muitos. Tão policrômicos quanto o próprio Evangelho.
Talvez para alguns faça falar nas praças da cidade, para outros, distribuir cópias do Evangelho de João pode ser mais eficiente. Ainda outros colhem frutos de longas e vagarosas conversas, promovendo encontros com Jesus por meio da profundidade dos relacionamentos. Indo além, para alguns discípulos falar do evangelho acontece ao mesmo tempo em que se faz uma refeição para entregar a um amigo enfermo. Ou quando uma oração e um abraço são oferecidos aos afligidos pela solidão.
O indispensável é ser testemunha da vida disponível em Cristo.
Gosto muito do que John Mark propõe de que “viver uma vida bonita" é uma maneira de pregar o evangelho. Por quê?
Pois a vida saturada por Cristo torna-se radiante e atraente por si só. Graças à beleza dele traduzida pelas virtudes que nos revestem, pelo amor em nossas relações, pela sensibilidade do nosso olhar, pela disposição à generosidade, pela busca por sabedoria e pelo compromisso com o descanso.
Praticar o caminho de Jesus, pura e simplesmente, torna o solo fértil para plantarmos as sementes de sua mensagem.
Lembre-se: nossa vida só se torna bela quando morremos para nós mesmos e abrimos espaço para a nova criatura que Jesus está formando em nós. A beleza da vida exige a morte do eu.
Mas a imitação de Cristo não termina na honestidade das nossas palavras. Jesus, sim, falou sobre o Reino, mas também o incorporou.
Isso ressoa com a ideia de “encenar o evangelho", explorada por Kevin J. Vanhoozer, um dos teólogos que mais me marcaram. Ou seja, assim como um ator encarna o roteiro de uma peça, nós também temos a possibilidade — e a responsabilidade — de atuar a partir dos scripts vividos por Jesus. E o que Ele fez?
Nos evangelhos, vemos Jesus curando enfermos, libertando pessoas espiritualmente cativas, alimentando famintos e desafiando os sistemas de injustiça de sua época. Seus milagres foram sinais do avanço do Reino de Deus sobre uma terra à espera de restauração.
Os atos de Jesus deram tração ao que N.T. Wright chama de “operação resgate” divina. E nós, sua comunidade de aprendizes, somos chamados a — como vimos na última carta — ir e fazer o mesmo.
Demonstrar o evangelho é ser mais do que um mero espectador.
John Mark pontua estes sinais da invasão do Reino:
Cura: multidões procuravam Jesus para que fossem curados. Tiago exortou a igreja a orar pelos enfermos para provarem do poder restaurador de Deus.
Libertação: cristãos reconhecem que há um aspecto espiritual entrelaçado no tecido da criação. Por isso, a presença demoníaca é real. É responsabilidade dos discípulos se mobilizar em oração.
Profecia: quando discernimos a Palavra de Deus a pessoas e situações específicas, a fim de servir o outro com clareza e direção.
Justiça: posicionar-se ao lado de Deus garantindo que a ordem criada seja endireitada, e que assim as pessoas encontrem harmonia e dignidade.
Eu sei, diferentes perspectivas teológicas podem reagir de maneiras opostas às propostas de John Mark Comer. Particularmente, creio que há respaldo bíblico para afirmar, ensinar e praticar, pelo poder do Espírito, atos como esses.
Contudo, notei que esses quatro sinais não são o foco de “como” podemos demonstrar o evangelho.
E quanto a mim, um jovem marido, pai e escritor perdido no meio da vida ordinária? Ou, e quanto a você, discípulo(a) vagando pelas ruas da cidade, entendiado num escritório, distraído nas redes sociais ou atarefado com as demandas de casa? 🙇🏻♂️
Essencialmente, Praticando o Caminho diz que o “primeiro passo” para demonstrar as boas-novas cotidianamente é estar de olhos abertos para o que o Senhor já está ao fazendo e, assim como Jesus, olhar compassiva e cuidadosamente para as pessoas — corporificando a presença dele no mundo (cf. 1Co 12:27). O que nos leva à questão:
O que Cristo está tentando expressar ao mundo que te observa por meio da sua vida em particular? — John Mark Comer, p. 161
John Mark indica duas maneiras de expressarmos, em carne e osso, o amor de Cristo: quando trabalhamos e praticamos boas obras. Vamos por partes.
Não, a ideia não é (exclusivamente) usar o seu emprego como meio evangelístico. Embora, como acabamos de ver, seja uma das possibilidades de pregação — especialmente se ligada à construção de relacionamentos e aprofundamento de conversas.
O foco está no trabalho como ministério, no sentido de uma vocação santificada. Transformar o seu trabalho em um ministério não significa abandonar a função de programador para se tornar pastor ou missionário, mas programar da melhor maneira possível — com criatividade, excelência, integridade e amor — como Jesus faria feito em seu lugar, usando o seu computador.
Nossos trabalhos se tornam ministérios quando os praticamos como expressões visíveis de amor.
Seja este trabalho o de uma mãe preparando diligentemente as refeições de seu bebê ou de um designer combinando cores para a boa comunicação de uma empresa.
Quanto às boas obras, são atos esporádicos de amor que irrompem no cotidiano, diz John Mark. A Bíblia não diz que as nossas obras nos tornarão aceitáveis a Deus, mas confirma que elas refletem a beleza dele. Esses gestos de amor, entretecidos na Trindade, ganham novo significado.
Não praticamos boas obras por sermos ou para sermos pessoas boas, mas para expor que a bondade de Deus disponível a nós é acessível a todos.
Até os mais singelos e insignificantes atos de bondade dos aprendizes do Caminho— quando plantados por Jesus em nossos corações — são revestidos de eternidade, abraçados num movimento maior de amor.
🔑 Para guardar: uma vida que irradia
Ninguém acende uma lâmpada e a coloca debaixo de uma vasilha. Ao contrário, coloca‑a no lugar apropriado e, assim, ilumina todos os que estão na casa. Da mesma forma, brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem a seu Pai, que está nos céus.
— Mateus 5:15-16
🎒 Para praticar:
Qual é a sua relação com o evangelismo? Em seu contexto de fé, você é encorjado(a) a pregar o evangelho verbalmente? Como isso pode fazer parte da sua rotina?
Pense em algo prático para pregar e demonstrar o evangelho nesta semana. O que você pode dizer e fazer para que Jesus seja visto por meio de você? Talvez agir com generosidade, praticar hospitalidade, orar por alguém (ou com alguém) que ainda não conhece a Cristo.
Você vê seu trabalho como um ministério? Pense em como você pode expressar amor através dele. Lembre-se que isso vai além de evangelizar no ambiente de trabalho.
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