cartas do caminho // trilha 7: treliças, videiras e uma regra de vida
notas e reflexão sobre Praticando o Caminho
Oi, gente! Faz um tempinho que não atualizo nossas cartas do caminho. Mas elas estão de volta.
Estamos nas reflexões finais a partir do livro Praticando o Caminho, escrito por John Mark Comer. Uma obra sobre formação espiritual e discipulado cristão.
Você lembra, né? Praticando o Caminho já está disponível em português pela Purpose Paper e você pode adquiri-lo aqui.
E então, vamos?
Sobre treliças e videiras
Esse livro fala sobre três objetivos da vida de um aprendiz de Jesus. Estar com Ele, ser como Ele e fazer o que Ele fez. Em outras palavras, a jornada de um discípulo envolve comunhão, imitação e missão.
Acontece que tudo isso emaranhado em nossas rotinas confusas, saturadas e tolamente administradas, pode significar… nada. O discipulado não passará de (mais um) discurso religioso esteticamente polido, comovente, mas indiferente. A menos que a nossa fé ponha os pés no chão.
E para isso carecemos de mais do que boas ideias: precisamos de uma regra de vida.
Isso pode ser, no mínimo incômodo e, no máximo, assustador para brasileiros contemporâneos, tão afeitos à liberdade espontânea (como escrevi certa vez, no futebol, o brilhantismo irreverente nos encanta mais que a tática disciplinada). E até mesmo para evangélicos devidamente apegados na doutrina da graça. Seguir uma regra não desloca a centralidade da graça?
Não exatamente. Prezar por um caminho intencional de práticas e disciplinas acaba sendo um meio de ir mais longe na vida que Jesus oferece. Ir mais fundo na graça.
Aliás, semanticamente, o termo “regra” remete a regula, que representa a treliça que sustenta o crescimento orgânico de uma videira. 🪜🍇
Em várias cartas nos lembramos aqui que a formação espiritual é um processo inevitável para qualquer pessoa, não é? Uma regra de vida também.
Regras de vida, embora tenham sido cunhadas no contexto monástico antigo, não são exclusivas para monges isolados, devidamente seguros num quarto fechado de suposta pureza. Elas estão à solta por aí. Você já vive a partir de uma regra de vida. Perceba você ou não.
A questão é se essa estrutura formativa tem moldado você por amor e para o amor semelhante a você.
Ou se está te formatando numa cópia desumana de tendências culturais vazias, ideologias reducionistas ou filosofias de vida facilmente quebráveis.
Regras de vida têm consequências de carne e osso. Podendo até quebrá-los. Pessoas cronicamente exaustas, digitalmente viciadas, relacionalmente superficiais e profundamente ansiosas, agem nos ritmos de uma regra de vida.
Funcionam como itinerários para uma jornada — os pequenos passos até chegar num destino desejado. 🛣️
Em busca de um plano cuidadoso
Em seu livro, John Mark Comer nota algo interessante. Consideramos importante planejar e organizar, por exemplo, nossas finanças e o nosso tempo; a agenda de trabalho, demandas domésticas e exercícios físicos. Porque deixamos de lado a vida espiritual?
Planejá-la, entretanto, não significa assumir seu controle a todo custo. Também já conversamos em cartas anteriores que é o Senhor em sua graça que sustenta a nossa formação.
De novo, trata-se de reorganizar o correr de nossos dias — hábitos, afazeres, momentos e relações — para desfrutar cada vez mais da presença deste Deus que anda de tarde no gramado.
Nas palavras de John Mark:
Uma Regra de Vida é um cronograma e um conjunto de práticas e ritmos relacionais que criam espaço para estarmos com Jesus, nos tornarmos como ele e fazermos como ele fez, enquanto vivemos de maneira alinhada com os nossos desejos mais profundos. É uma forma de organizar intencionalmente a nossa vida em corno do que mais importante: Deus.
— Praticando o Caminho, p. 170
Gosto do trecho de David Brooks que John cita, falando sobre o amor comprometido. Para ele, compromisso é:
Amar algo [ou alguém] e então construir uma estrutura de comportamento em torno desse amor, para aqueles momentos em que o amor vacila. — David Brooks
Minhas boas intenções são insuficientes para sustentar meu amor pela Lari. Meus afetos eufóricos são frágeis demais para manter meu amor pelo Tim. Para cultivar relações saudáveis com meus familiares, não basta a minha boa vontade. E até para aprofundar minhas amizades, preciso desconfiar da fluidez das minhas afeições. Quem dirá em relação a Jesus.
Minhas escolhas espontâneas, reféns de emoções voláteis, não são nada confiáveis para um amor comprometido.
Preciso dessas “estruturas de comportamento” para me tornar uma pessoa mais presente, atenta, amável e auto-doadora aos que convivem comigo.
As práticas que estruturam a sua rotina te transformam nesse tipo de pessoa? 💭
Portanto, uma curadoria espiritual exige de nós a humildade e a coragem para decifrar os nossos hábitos e liturgias e decidir o que pretendemos guardar e o que devemos lançar fora. Claro, um minucioso processo dependente de oração e direção do Espírito.
Seja cuidadoso com as questões que você faz a si mesmo para mudar o seu curso. Eu costumava pensar como John Mark Comer, em termos de certo ou errado (pecado ou não), mas…
Agora que entendo melhor o evangelho e a possibilidade que ele traz de uma "vida que é verdadeiramente vida" com Jesus, minha nova pergunta é: tal coisa me move em direção a Jesus ou me afasta dele? — Praticando o Caminho, p. 176
Chegando até Jesus
À luz dessas premissas, Praticando o Caminho sugere quatro maneiras pelas quais uma regra de vida orientada por Jesus pode nos levar para mais perto dele.
Ajudará você a transformar sua visão em realidade ⬇️
Quando eu fazia aulas de bateria, me via como aspirante a sucessor de Carter Beauford, Keith Moon ou Larry Mullen Jr. (sim, uma mistura estranha). Mas foi necessário que meu professor transformasse minhas aspirações entusiasmadas numa rotina de prática constante para que eu lidasse tanto com as minhas limitações quanto com minhas potencialidades.
Este primeiro tópico é sobre isso. Abraçar uma regra de vida pode cobrir a lacuna entre uma visão abstrata de vida cristã e um relacionamento vívido com Jesus.
Ajudará a experimentar a paz de viver alinhado aos seus desejos mais profundos 🫀
Está longe de ser novidade a constatação de que estamos amplamente distraídos. É um dos custos da vida hiperconectada.
Você afirma acreditar e até se “compromete”’ a perseguir determinado objetivo, mas, como a multidão que se tromba numa estação de metrô, sua atenção é recorrentemente levada de um lado para o outro — bem como o seu coração.
Também é fácil constatar como nossos desejos são incoerentes. Eu, por exemplo, oro dizendo que Cristo é suficiente para mim. Só que um anúncio banal pode, furtivamente, fazer com que eu creia que o que tenho não é o bastante. A mesma lógica de quando invejo a vida de outras pessoas.
Percebe a fragilidade dos nossos desejos?
Ao me submeter aos limites libertadores de uma regra de vida no caminho de Jesus, posso aprender a desejar o que é dignamente desejável. E ser movido por isso.
Ajudará você a viver no ritmo certo⏱️
Um ritmo prudente nos ajuda a resistir à pressa exaustiva e enfrentar a preguiça letárgica — nossa tendência bipolar de não ficar em lugar nenhum ou de não sair do lugar.
Como diz John Mark, “"uma Regra de Vida irá ajudá-lo a determinar antecipadamente a velocidade de sua vida, para que você não fique esgotado ou estagnado” (p. 180).
Ajudará você a equilibrar liberdade e disciplina 🪁
John diz que uma Regra de Vida é um “mapa” não uma “camisa de força” (p. 181). Como costumo dizer, metáforas mudam tudo.
Assumir uma Regra de Vida como pré-requisito para o amor de Deus (e até das pessoas) será devastador. Te garanto. Aí sim você derrapará no legalismo vazio tão criticado pelo próprio Jesus. Os compromissos práticos de uma regra dizem mais sobre limites libertadores.
Os quais você, com sensibilidade e tato, deve ver como meio, não fim. A propósito, regras de vida são recursos pedagógicos que devem servir às pessoas reais vivendo vidas reais (repletas de interferências, imprevisibilidades e improvisos). Esse é o tipo de vida que Jesus deseja invadir.
Concluindo, Comer cita a ministra anglicana Margaret Guenther, que diz:
Uma boa regra pode nos libertar para sermos o que temos de melhor e verdadeiro. É um documento de trabalho, uma espécie de orçamento espiritual, não escrito em pedra, mas sujeito a revisões regulares. Uma boa regra nos serve de suporte, mas nunca nos restringe. — Margaret Guenther
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Muito muito bom!! Deu muita vontade de ler. Fiz até meu cadastro no site do practicing the way pra explorar os recursos que eles têm por lá.