O Natal é aquela época do ano com o cenário perfeito para a comoção do coração.
Vários elementos cooperam para isso: apelo comunitário das confraternizações e encontros em família, refeições compartilhadas, trocas de presentes etc.
Ah, e claro, toda a estética acolhedora e encantadora da estação. Todo ano faço questão de ver as decorações do shopping — mesmo que sejam sempre as mesmas, hehe.
Aquela velha ideia do “espírito natalino” que as narrativas da cultura há tanto exploram (e que transformaram o Natal num nicho de mercado, mas não é o foco aqui).
Celebramos um tempo de esperança, paz e amor. Mas tudo isso pode significar nada.
O que andei pensando nesses dias é que o significado radical do Natal (ou seja, sua raiz de sentido) propõe verdades bem mais desconfortáveis que as expostas nas comédias românticas — e muito mais transformadoras.
Se no Natal celebramos o nascimento de Jesus, o Verbo que se fez carne, nos lembramos de um amor que é mais que ideia e sentimento.
O Natal é a estação que celebra a humildade de Deus em se fazer conhecido.
É a prova de que o Deus das Escrituras se revela às avessas: fazendo-se bebê, recolhido numa manjedoura, numa cidade que pouco importa.
Humildade pra se fazer conhecido. Isso me pega muito.
Culturalmente, o Natal promete um tipo de amor que se comove pelo clima. Mas, biblicamente, a natividade do Senhor revela um tipo de amor-humilhação. Filipenses 2, sabe?
Na vida comum, isso é muito desafiador.
Amar é difícil.
Pelo pecado que há em mim, minha tendência é se esconder de Deus e dos outros. Estamos todos nesse ritmo.
Além disso, minha tentação, mais do que ser um ilustre desconhecido, é não querer conhecer de verdade as pessoas. Receio me aproximar.
Falho em conhecer minha esposa cuidadosamente. Erro com meus amigos ao não conhecê-los com cuidado.
É uma luta pra mim. Eu sei, pra todos. Um problema de ser humano é ser você mesmo o seu maior interesse.
E é por isso que a narrativa do Natal é tão subversiva. É um confronto e um consolo pra nós.
Ainda que sejamos incapazes de conhecer e amar (e vice-versa), o Deus que o Natal celebra não se esconde. Sua glória não é um refúgio inacessível. Ele põe os pés no chão sujo.
Essa é a beleza da encarnação: nos mostrar como se ama em carne e osso. Jesus veio, se aproximou.
No fim, acho que o Natal é sobre chegar mais perto. Perto demais.