de olhos abertos // ep. 3 - igrejas que formam artistas
+ histórias que vi por aí: Ruptura
Oi! Chegamos ao último episódio da nossa conversa sobre o livro Cristianismo Criativo!
Para encerrar essa jornada, quero te convidar a pensar sobre o papel da igreja, do discipulado e da teologia na formação de cristãos artistas.
Conversa sobre cultura e arte
Os perigos do brilhantismo solitário 💔
Séculos de história relegaram aos artistas o status de “gênio incompreendido”, com um tipo de brilhantismo inacessível e solitário. Não à toda o meio artístico, seja os mais artesanais ou a nível de indústria do entretenimento, é constantemente corroído por arrogância, ganância e orgulho.
Um artista pode facilmente acessar do público com astúcia e sensibilidade, mas o quanto ele está sensível para vasculhar o seu próprio coração? No desfecho de suas instruções para os seguidores de Jesus atuando nas artes, Steve Turner — num tom pastoral — trata de motivações. Ele propõe uma auditoria da alma para criativos em missão (incluindo ele próprio).
Artistas expressam virtuosamente nosso anseio por pertencer — fazer parte de algo ou alguém maior que nós mesmos —, mas lutam em lidar com os custos do pertencimento.
Makoto Fujimura, célebre artista plástico, diz:
Para um artista que vive pela fé, ele ou ela deve buscar uma comunidade de fiéis. Muitos artistas (incluindo eu mesmo) lutam para fazer parte de uma comunidade. Mas os artistas precisam ver a arte na fé dos irmãos e irmãs; os irmãos e irmãs em Cristo precisam ver a fé em um artista. Quando consigo fazer isso, encontro cura em minha própria jornada.
— Makoto Fujimura
Isso porque, sem a vida sustentada por uma comunidade, cristãos nas artes não passarão de bons executores — fazedores de coisas —, e não pessoas diferentes.
Celebrando a vocação da arte 🎨
O que aprendemos ao longo de Cristianismo Criativo é que o conteúdo de um cristão artista é apenas uma pequena fração de sua obra mais valiosa: sua própria vida, sinal da beleza de Deus.
Mas a gente sabe que não é tão simples assim. A menos que seja para aderir ao mercado religioso, é raro que pastores, líderes e membros de igrejas encorajarem pessoas com pretensões de seguir a jornada nas artes.
Entretanto, ao invés de desencorajar a vocação artística por suspeita de contaminação, igrejas locais, atentas à pluralidade dos dons e à abrangência da missão, deveriam inspirar e instruir discípulos-artistas. Faz mais sentido a igreja celebrar o papel dos artistas do que negá-lo.
Em minha experiência, o pintor ou poeta cristão, escultor ou dançarino, é, normalmente, visto como uma curiosidade, a ser tolerado, até mesmo divertido, talvez até autorizado a fazer uma apresentação de vez em quando. Mas a ideia de que eles são, ou poderiam ser, algo mais do que isso - de que têm uma vocação para reimaginar e reexpressar a beleza de Deus, elevar nossas aspirações e mudar nossa visão da realidade - muitas vezes nem é considerada.
— N. T. Wright
Igrejas que formam artistas ⛪️
Embora o caráter profético da arte — de desafiar sistemas e instituições — seja imprescindível, aquele que canta, filma, escreve ou pinta contra os vícios da sociedade pós-queda, precisa de um ecossistema saudável a favor das virtudes que o mantenham no caminho de Jesus.
É o que costumo dizer acerca da presença cultural cristã. Na ansiedade pelo diálogo com a cultura e pela “contextualização relevante”, nos esquecemos que a principal contribuição dos aprendizes de Jesus para o mundo é a própria história que eles têm para contar. História encenada de modo singular na igreja. Em outras palavras, para estar mais perto da cultura os cristãos devem estar mais próximos da Bíblia.
Se quisermos ver a arte que desafia o secularismo prevalente, precisamos de artistas que não tenham apenas habilidade, mas que sejam também teologicamente bem preparados e alicerçados na comunhão, e levem uma vida de obediência. — Steve Turner
Na prática, como a igreja pode contribuir para o cuidado e o envio de artistas?
Comunhão e amizades espirituais para preservar o amor;
Orando pelos artistas (de dentro e de fora da igreja), para que Deus manifeste sua beleza através de suas obras e guarde o coração desses discípulos;
Formação teológica que "batize a imaginação" no drama da redenção;
Discipulado, vida de obediência e devoção silenciosa;
Afirmando o valor da produção cultural na comunidade (seja em sermões ou encontros intencionais, por exemplo).
Além de uma visão de mundo integral, um olhar sacramental para a realidade, coragem e sinceridade para lidar com as questões do tempo presente e destreza criativa, os discípulos de Jesus no mundo das artes precisam de comunidade. Precisam do amparo, acolhimento; cuidado espiritual e capacitação teológica que só uma igreja local, posto avançado do Reino presente, pode oferecer.
Legal DEMAIS! Concluímos a primeira jornada de reflexão do LADO B, que começou lá no ano passado. Nesses textos propus aqui uma conversa a partir do livro Cristianismo Criativo, do poeta e jornalista Steve Turner, discípulo de Jesus que tem vivido na pele os desafios e privilégios da presença cultural e da vocação artística.
No Brasil, Cristianismo Criativo é publicado pelos queridos da W4. Recomendo FORTEMENTE que você adquira e explore o livro. A meu ver, um dos mais objetivos, instrutivos e inspiradores sobre o tema.
Histórias que eu vi por aí
Ruptura (in progress) 💼
Pois é, mais de dois anos depois do lançamento deste hit da AppleTV, eu e a Lari retomamos a série. Em 2022 desanimamos logo no começo, mas voltamos a assistir com mais paciência e curiosidade. Nem só de Modern Family, Área Restrita e Casamento às Cegas vive esta casa.
Enfim, ainda estamos na primeira metade da temporada 1, então não é o momento de discorrer uma análise detalhada por aqui. Mas pensei em compartilhar alguns pontos que chamaram a minha atenção e que pretendo explorar posteriormente.
A temática da alienação social;
A falha de mecanismos para lidar com a dor e o sofrimento;
A perda (e busca) pelo que podemos chamar de “eu constante” ao invés de identidades fragmentadas.
Se este texto te inspirou, te desafiou ou fez sentido de algum jeito, fica aqui o meu convite para você apoiar o meu trabalho. Escrevo para ajudar as pessoas, e você pode fazer parte disso.
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Só tomei gosto na segunda metade da primeira temporada de Ruptura e só não abandonei por curiosidade. Estou assistindo à segunda temporada e está a mesma coisa. Não entendi ainda.