Oi, gente! Esta é a De Olhos Abertos, a revista de cultura e arte do LADO B. 👁️ 🎨
O nosso objetivo por aqui é aprender a respirar a beleza, seja na criação e na arte, com novos pulmões — e vê-las com novos olhos. Aprender a, quem sabe, olhar duas vezes.
Até aqui, ainda nos primeiros passos da nossa jornada de reflexões sobre uma teologia da beleza, pensamos sobre a necessidade (e utilidade) da beleza e sobre as condições espirituais e culturais que nos impedem de respirá-la. Hoje, mais uma vez com a ajuda de Wesley Van der Lugt, vamos conversar sobre a natureza trinitária da beleza.
Como é ceder espaço para a beleza? Você sabia que sair do centro pode ser uma experiência encantadora e revelar um mundo totalmente novo? — Beauty Is Oxygen, p. 43
Lugt discorda que haja um poder redentivo na beleza, capaz de regenerar o coração de uma pessoa. Mas, afirma que encontros com o que é belo podem, como o fio de um novelo sendo puxado, nos levar até a beleza em Pessoa, Jesus.
Porque encontrar-se com a beleza pressupõe um ato imprescindível para um encontro com Cristo: deslocar-se de si. Sabe?
Espantos e abraços 😱
Estamos falando daquele incômodo, mas aliviador choque de realidade de que não estamos no centro do mundo — ilusão para qual a idolatria da autenticidade, a sociedade de consumo e o seu feed personalizado do Instagram nos treinam tão bem para sustentar.
Abril de 2023. Eu e a Lari embarcamos na primeira viagem internacional da nossa família, até o fim do mundo. Caso não saiba, a patagônia argentina abriga a terceira maior camada de gelo da terra, atrás apenas dos polos sul e norte.
Não à toa é um destino turístico cobiçadíssimo. Gente do mundo todo viaja para ver os desfiladeiros de geleiras que ultrapassam centenas de metros de altura.
Nós, dois jundiaienses acostumados com shoppings e Netflix fomos até lá. A paisagem é tão bela — e até assombrosa — que é como um soco no estômago que te empurra de si. Ao mesmo tempo que te espanta, te abraça.
Talvez porque este tipo de espanto estético — o susto diante de tanta beleza — não era para ser restrito a um destino turístico. Era para ser comum. A boa notícia das Escrituras é que um dia será.
Sobre florestas, cultos e traços de glória 🌲
É provável que o mercado de viagens tenha nos acostumado a ver paisagens naturais como um lugar de consumo, enquanto elas mais assemelham a um espaço de culto.
Florestas, praias, pores do Sol e glaciares, como um templo, esburacam a nossa câmara de eco imanente (lembra da nossa última conversa?) e revelam traços da glória de Deus.
Essa sensação de descentralização está impressa nas palavras do Salmo 8:3-4:
Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, a lua e as estrelas que ali firmaste, pergunto: “Que é o homem, para que com ele te importes? E o filho do homem, para que com ele te preocupes?” — Salmos 8:3-4
Repare como a contemplação estimula uma reação de grato constrangimento.
Paradoxalmente, as pessoas que se empurram diante de uma geleira para garantir sua própria melhor foto, no fundo, querem ser menos egoístas — por isso a beleza as atrai. Queremos uma vida mais vasta, além do egoísmo. Um mundo que vá além da nossa própria cabeça.
Espaços para a plenitude 🍃
Estar aberto e disponível é pré-condição para experimentar beleza. Ela já está lá, ali e aqui, ainda que ofuscada pelo alto fluxo de interrupções de uma vida autocentrada e hiper conectada.
O próprio Jesus nos desafia gentilmente a olhar os lírios do campo. Em sua sofisticada simplicidade, são como pontos de contato com a verdadeira plenitude.
A melhor forma de expressar a radical transcendência de Deus é reconhecer sua plena imanência em todas as coisas. E essa proximidade absoluta só é possível porque Deus é infinitamente transcendente. […] A beleza aponta para a infinitude de Deus ao mesmo tempo em que celebra os detalhes de sua proximidade. — Natalie Carnes, Beauty, p. 108, 121
Notamos aqui que há uma resposta ética que decorre da experiência estética, pois o amor exige ir mais longe de si para chegar mais perto do outro.
Como a natureza de Deus nos ajuda a receber a beleza no mundo?
Beleza e vulnerabilidade 🤲🏻
A grande diferença, argumenta Lugt, entre a experiência com a beleza pautada pelo consumo e pelo entretenimento, e o encontro com a beleza como vislumbres do Eterno, é que na beleza divina há morte e vulnerabilidade. Em outras palavras, a beleza emerge da doação, digamos.
A beleza emerge nos entrelaçamentos das relações reais, onde experimentamos tanto a dor quanto o prazer. Descobriremos a beleza da terra quando estivermos enraizados nela, em vez de flutuarmos acima dela. Perceberemos a beleza das outras criaturas quando nos relacionarmos com elas de maneira pessoal e responsável. Encontraremos a beleza dos outros quando permanecermos envolvidos na vida comunitária. Seremos transformados pela beleza de Deus quando estivermos entrelaçados com Cristo, assim como os ramos estão entrelaçados à videira. Ser poroso e entrelaçado é ser vulnerável, mas também estar disponível à brisa da beleza.
— Beauty Is Oxygen, p. 54
O autor nos lembra que a arte pode promover uma “imaginação empática”, por ser capaz, por histórias, de nos inserir imaginativamente em situações, dilemas e dores concretos de outras pessoas. Despertando, assim, uma resposta “moral e pastoral” ao sofrimento.
Suas experiências estéticas — ao ouvir uma música, ver um filme, ler um romance, ouvir um podcast narrativo, provar uma bela refeição ou contemplar a natureza — fortaleçam sua ética do amor? Tornam sua imaginação mais empática?
Estética para uma ética do amor ❤️
Penso muito nisso. Será que estou assistindo as séries que assisto para não ficar para trás e ouço as músicas que ouço por pura distração?
Ou será que assistindo Adolescência me torno mais crítico à superexposição digital da juventude e compassivo com adolescentes que precisam de acolhimento e pertencimento? Lendo Gilead assumo o cuidado de zelar pelas memórias que construo com meu pequeno Tim? Ouvindo Explosions in the Sky refino a minha audição para escutar a voz de Deus?
As suas experiências estéticas inspiram a sua vida de oração e despertam sua devoção e compaixão?
Nossos encontros cotidianos com a beleza, através da arte, por exemplo, podem desafiar os nossos preconceitos intelectuais e aguçar a percepção da verdade; podem lapidar as nossas emoções e até reavaliar as nossas disposições, nos fazendo repensar atitudes e hábitos.
Mas, conforme conversamos na última edição desta news, para respirar a beleza do mundo precisamos de novos pulmões. E, antes, um novo coração. Precisamos de graça.
Então, que o Senhor nos desloque de nós mesmos e nos ajude a olhar para além do espelho, a ver o que há de belo ao redor e a responder em amor. Que Ele nos dê a graça a amá-lo enquanto aprendemos a amar os belos frutos de sua criação.
Dada a nossa natureza curvada e a atração gravitacional do interesse próprio, ser desdobrado pela beleza é um ato da graça de Deus. — Beauty Is Oxygen, p. 57
Este texto faz parte de uma série de reflexões a partir do livro Beauty Is Oxygen: Finding a Faith that Breaths. Para aprender mais desse e outros assuntos relacionados, assine o LADO B e acompanhe a De Olhos Abertos, minha newsletter de arte e cultura.
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