De Olhos Abertos // EP08 | Suspeitas de algo novo
Sobre encontrar beleza na dor, no efêmero e no Eterno
Pensar sobre arte, cultura e o lugar da beleza na vida cotidiana é um dos passos rumo ao maravilhamento — reencantar-se com o mundo, com o outro e com Deus. Por isso temos a De Olhos Abertos. E por esse motivo, nesta série, estamos conversando sobre o livro Beauty Is Oxygen. 📘
A ideia desse título (literalmente) é que experimentar a beleza nos faz respirar o ar de um mundo renovado enquanto ainda estamos sufocados pela fumaça.
E se a beleza me levar de volta para casa? E se a beleza puder soprar vida sobre estes ossos secos? E se a beleza for suficiente? (p. 93)
Em seu estudo para uma teologia estética prática, Wesley Vander Lugt retoma em diferentes momentos o dilema do porquê se preocupar com a beleza se estamos perdidos entre tantas crises, conflitos, traumas.
Na vida com contornos seculares, com Deus fora de cena, orientada para a resolução de problemas e otimização de soluções, parar para o que é belo parece mesmo um desperdício.
Por que perder tempo com romances, músicas, poesias e filmes se preciso correr para garantir realização financeira? Por que contemplar uma folha qualquer que em nada vai me ajudar a cumprir tarefas atrasadas? Nos fechamos para a beleza quando pressupomos que ela é inútil.
Mas, a beleza, que diz respeito a imaginar através dos sentidos, nada tem de inutilidade. Ela é necessária.
Abrir-se para a beleza e, de fato, criá-la a partir da criação de Deus, é um caminho de esperança e cura. ☁️
O conselho de Lugt é simplesmente “não podemos adiar a busca pela beleza.” Não deixe a beleza para depois.
A sabedoria bíblica, nas palavras do Pregador em Eclesiastes, nos lembra disso. Sim, a vida é difícil e esfumaçada. Ainda assim, é bela e exuberante: respire o máximo que puder. Aspire todo suspiro de graça que encontrar. A beleza, “chega para nos lembrar de que esta vida é preciosa, frágil e digna de ser saboreada” (p. 79).
Lembrei desta música:
Life is loud, all around / Sight and sound / Lost and found / Cross and crown — Oxygen, Kings Kaleidoscope
Aqui surge um incômodo comum quando conversamos sobre arte e espiritualidade.
Se os cristãos passam a se importar mais com as coisas da cultura, eles não se tornam (automaticamente) negligentes com as “coisas do alto”? Como se o efêmero e o eterno disputassem a nossa atenção.
Bem, penso que o dilema se apazigua quando lembramos que se até mesmo a efemeridade é tingida de eternidade, não precisamos viver sob uma hierarquia de prioridades.
A prioridade da nossa atenção, adoração e coração há de ser sempre o Eterno. Somente assim veremos, nos feixes efêmeros de beleza, algo além dela mesma. Estou certo de que Deus ama que amemos coisas belas. Ainda mais: tenho certeza que Ele as ama bem mais do que nós.
Se ignorarmos a beleza de Deus, nos perderemos na beleza do mundo. Mas se ignorarmos a beleza do mundo, poderemos deixar de encontrar Deus, e nossas almas sofrerão. [..] O caminho de cura para almas feridas envolve tanto se deleitar na beleza efêmera quanto lembrar do Criador eterno. (p. 80)
É verdade que a beleza proporciona alegria, deleite e prazer em tantos sentidos. Serve como alívio e respiro em meio ao ar poluído e rarefeito de um mundo fraturado.
A beleza que guarda esperança e guia rumo à cura nem sempre é agradável — ingenuamente feliz, sabe? Não por acaso o que há de mais aclamado, reconhecido e celebrado na arte tem raízes na dor.
Foram traumas de infância e angústia espirituais que fizeram surgir O Grito, de Munch, por exemplo. Foi a partir do luto pela perda da mãe, marcado por lembranças agridoces, que Sufjan Stevens compos Carrie & Lowell. Chico Buarque cantou todo o repertório de Meus Caros Amigos em resposta à dor da censura e da saudade, num cenário de severa repressão. Com seus belíssimos diálogos e atuações, Cenas de Um Casamento lida com a dificuldade de amar e de ser amado, a dor do rompimento.
Beleza é como saudade: encanta e dói. A dor da saudade, no fim, fortalece o amor. ❤️🩹
No entanto, mesmo a arte dolorosa mantém-se como sopro de esperança, pois o ato de criar em si, é a confiança por algo novo. Uma constante alternativa ao desespero definitivo, plantando suspeitas virtuosas que confrontam a nossa apatia. A arte costuma sugerir como algo poderia (e pode) ser diferente.
Mas mesmo quando a arte reflete o desespero, ela expressa o impulso humano pela criatividade e, como tal, é um sinal da esperança que continuamente busca romper na consciência humana. Criar algo é confiar que o futuro pode ser diferente e melhor do que o passado. (p. 86)
Isso é transformador! Quantos artistas não sofrem por crerem na mentira de que sua arte é descartável? Nada disso.
Como sinal de esperança, atos criativos ressoam eternamente — são eternamente orientados. 💡
Eu sei que até as músicas que mais me fizeram chorar — ou me acolheram durante meus lamentos e sofrimentos —, intuitivamente, sussurram que a angústia, a solidão e o medo não são definitivos. Abrem espaço na minha imaginação para vislumbrar algo diferente.
Tanto a beleza quanto a feiura nos provocam a perguntar "e se?", mas a solução não é fechar a imaginação, e sim abri-la ainda mais para possibilidades belas. E se o bem triunfar sobre o mal? E se, apesar de toda a dor, Deus estiver fazendo novas todas as coisas? E se eu passasse mais tempo duvidando das minhas dúvidas? (p. 88)
O próprio Jesus, narrador-protagonista da Grande História, contou também pequenas histórias, com beleza e criatividade, para exibir e convidar seus ouvintes a uma realidade maior: o Reino se fazendo presente. As parábolas de Jesus despertam uma série de “E se?” — invertem e devolvem perguntas.
Esse mesmo artesão de histórias nos lembra que deleitar-se na beleza dele pode nos curar. Até mesmo quando contemplá-lo significa olhar para os lírios.
Como experiências com a beleza efêmera te ajudam a se deleitar na beleza do Eterno? Tem alguma história sobre isso pra dividir?
E então, esta série de reflexões fez sentido para você? Se ela te ajudou de alguma forma, conta aqui pra mim! E seria legal demais se você compartilhasse com os seus amigos! 🙌🏻
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A gente segue junto, aprender a abrir os olhos para a cultura.
Abraço e até a próxima news!
Houve um tempo em que surgiram dúvidas se a pintura deveria continuar, mas tem gente que até duvida da existência de Deus! Vários foram os motivos, mas com a entrada da fotografia, rolava até um movimento em que a pintura ou até a própria arte estavam se tornando obsoletas . Que loucura isso , como pode tal pretenção de definição, querer acabar com a beleza ? Mas, de fato isso surgiu tempos atrás, só que veio alguém mais esperto e tirou proveito para pintar melhor e mais precisamente, usando a própria fotografia em paralisar um movimento e replicar com os pincéis nas telas aquele “momento-instante”.
Esse tipo de investida, sempre se repete no mundo, sob novas formas de expressão, na arte contemporânea não foi diferente, através das instalações, happenings, performances etc -tentam matar o que nunca vai morrer-
Pintores e críticos de arte vieram c argumentações contra essa maluquice dessa “quase” morte , mas como tudo é sempre bom p avançarmos com força , nós pintores, fincamos bandeiras que sinalizam com o vento impetuoso em explorar mais ainda o belo nas artes visuais, através do pictórico, da nossa poética e de muita ralação, engolfados horas e horas pelo ateliê- O artista interessado em pano ou qualquer outro suporte e pigmento Jamais acabará, a beleza extravasa e escorre , seja vindo da maior dor ou da menor das margaridas q nascem no meio do asfalto nas ruas que passam gente, carros, cachorros e gatos e para lembrar, penso no Henri Rousseau que além de ser um pintor alucinantemente belo, escreveu com todos os tons e sem grito, “Enquanto existir homem existirá a bela pintura”.
Deus existe!