Edições anteriores:
de olhos abertos // ep. 6: um mundo além da sua cabeça
de olhos abertos // ep. 5: a moldura imanente, olhares apáticos e novos pulmões
NESTE EPISÓDIO 📌
- A relação entre estética e ética: o que admiramos molda como agimos.
- A cegueira para o belo pode gerar indiferença, opressão e destruição.
- Beleza verdadeira é plural, não uniforme — e reflete a Trindade.
- Contra a estética anestésica: o belo não é fuga, mas caminho de transformação.
- Uma imaginação empática é cultivada por encontros autênticos com o belo.
Mais uma edição da De Olhos Abertos, nossa news sobre cultura e arte. Neste episódio, seguimos a conversamos sobre o livro Beauty Is Oxygen, que propõe uma teologia prática da beleza. 🎨🍃
No texto de hoje, vamos descobrir como preconceitos estéticos perpetuam destruição e como a beleza autêntica desperta o cuidado.
E se, em vez de nos distrair da realidade da guerra e do trauma, a beleza pudesse suportar o sofrimento e começar a curar nossas almas feridas? — Wesley Vander Lugt, p. 66
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O que você vê?
Quem define o que é belo e o que é feio? Existe um apelo estético por trás do que preservamos ou destruímos.
Até porque, como já conversamos, estética e ética se relacionam, fazendo com o que aquilo que contemplamos e desejamos, motiva e move nossas atitudes. A beleza sempre nos leva em direção a algo.
Inclusive, Wesley Lugt, o autor que tem nos ajudado nesta série de reflexões, sugere que podemos rastrear como ponto de partida de uma série de injustiças e opressões ao longo da história, a falha de certos grupos em reconhecer a beleza e dignidade de cada ser humano.
Em resumo, quando ficamos cegos para o que há de belo na criação de Deus, nos tornamos propensos à indiferença e violência. Contra pessoas (pense aqui na segregação racial) ou contra a natureza (lembre-se das crises climáticas).
Esse problema, com tantas manifestações contemporâneas, na verdade remonta à rebelião de Adão e Eva, que foram colocados num Jardim belo criado para a harmonia. Que, no entanto, invadido pelo pecado, desfez-se num rastro de impiedade e injustiça no decorrer da história da humanidade. Os capítulos iniciais de Gênesis são prova disso.
Contra a estética anestésica
Se a cegueira para a beleza — ou a manipulação de padrões de beleza míopes — engatilha atitudes desumanas, como uma humildade resposta ao mundo belo pode nos ajudar a acolher, cuidar e servir as pessoas, livrando-as da asfixia?
Embora historicamente preconceitos estéticos tenham sido recursos para pressões uniformizadoras, a beleza se encontra mais na pluralidade do que na homogeneidade.
Em termos simples. Um céu azul é bonito, sim. Mas ainda mais espantoso quando manchado de laranja ao fim da tarde. Isso pois a beleza — composta por combinações, justaposições e misturas — reflete a própria natureza de Deus, a Trindade, na qual há unidade e diversidade.
Beauty Is Oxygen nos chama a uma “estética profunda”. Uma disposição à beleza não para a distração, mas a transformação. Não se contenta com uma estética anestésica, que visa desviar o nosso olhar das dores, guerras e traumas do mundo (recurso que a indústria do entretenimento frequentemente utiliza).
Isso se expressa no sentimentalismo, que pode funcionar para suprimir nossas emoções, e não educá-las para novas disposições e atitudes. Lembra do que conversamos sobre cultivar uma imaginação empática? Pois é.
Não paro de pensar em como a beleza genuína tem dentes e densidade — algo que nos atinge no estômago, em vez de simplesmente provocar sentimentos agradáveis. […] Penso na beleza íntima de um relacionamento que atravessa as águas turbulentas e nauseantes do conflito e, ainda assim, chega ao outro lado mais inteiro e vibrante. — Wesley Vander Lugt, p. 67
Se você busca experiências estéticas apenas para a manutenção do seu conforto e decoração do bem-estar, pode estar perdendo toda a riqueza que Deus, através do que é belo na natureza e na cultura, nos oferece.
Pensando biblicamente, o Eterno manifesta sua beleza em cenas e movimentos assustadores: por exemplo, a cruz. Um ato de beleza poderoso que traduz seu amor doador por gente afogada na escuridão.
Cuidar do Jardim
No legítimo encontro com a beleza, claro e escuro vem à tona, dor e alegria são bem-vindo, desafio e deleite também.
A beleza de Deus é ainda mais estranha: o esplendor de um Cristo ressurreto que emerge do abismo escuro da morte. Pode parecer uma contradição, mas nossa experiência de beleza pode incluir aquilo que Christian Wiman chama de “abismo luminoso”. — Wesley Vander Lugt, p. 73
Você já experimentou beleza em momentos difíceis? Como isso te transformou?
Às vezes a beleza serve para aplacar nossas dores. Outras, para intensificá-las. Precisamos de ambas experiências para sermos apreciadores de olhos abertos, humanamente compassivos e constrangidos frente à beleza do Criador.
Flores pelo jardim. Uma floresta volumosa. A risada de um filho. A história de um casamento. A cumplicidade de uma amizade. A fluidez de uma música. O sabor de uma fruta.
Assim como Ele desvelou sua beleza na simplicidade da vida e na crua crucificação de um nazareno, por amor, num cósmico ato de cuidado, o que devemos guardar desta reflexão, é que uma experiência autêntica com o que é belo pode nos levar a cuidar, honrar e preservar o que nos foi dado.
Somos convidados a enxergar um tipo diferente de beleza naquele que carregou nossas dores e curou nossas feridas. Se Deus é beleza, e Deus se revela plenamente em Jesus, isso deveria influenciar o tipo de beleza que esperamos encontrar — uma beleza capaz de ser oxigênio para a nossa alma. — Wesley Vander Lugt, p. 70
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